A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PROTESTO GLOBAL - OCUPAR AS RUAS, E DEPOIS?


Com adesões em todo o planeta, mobilização ainda não oferece resposta sobre o que esperar no futuro - ZERO HORA 17/10/2011

Contra a crise, as finanças globais e as falhas da democracia, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas no fim de semana, dando dimensão planetária aos protestos. Mas depois das réplicas, uma dúvida se impõe: como esse descontentamento será canalizado?

Em quase todas as grandes cidades, as manifestações foram pacíficas, com uma exceção: em Roma, houve incêndio de carros e depredação de lojas. Os confrontos com a polícia deixaram 70 feridos, três em estado grave. Doze pessoas foram detidas.

As maiores mobilizações ocorreram na Espanha e em Portugal. Em Nova York, uma multidão ocupou Times Square, onde a concentração de espetáculos e megalojas atrai turistas do mundo todo. Por lá, também houve dezenas de detenções.

Com slogans como “Povos do mundo, levantem-se” e “Sair à rua cria um novo mundo”, os atos se espalharam por 951 cidades de 82 países, segundo o site 15october.net. “Evidentemente, existe agora um movimento internacional”, constatou o editorialista do jornal italiano Repubblica, Eugenio Scalfari.

Depois do protesto globalizado, seguem interrogações, desde sobre o que querem os manifestantes – não há reivindicações formais – até a respeito de como os movimentos vão evoluir.

O que surpreendeu foi a origem de algumas manifestações de apoio. O italiano Mario Draghi, que em novembro assume a presidência do Banco Central Europeu (BCE), afirmou:

– Os jovens têm razão de estar indignados. Estão irados contra o mundo das finanças. Eu os compreendo.

Uma noite na Praça da Matriz

Só na manhã de ontem foi desmontado o acampamento na Praça da Matriz, em Porto Alegre, instalado no final da tarde de sábado depois de caminhada a partir do Parque da Redenção. A marcha foi pacífica e pedia mudanças globais, políticas e econômicas, com dezenas de movimentos, entidades civis e pessoas sem vínculos ideológicos, convocadas pelas redes sociais.

Solidários com o ato global do Movimento 15 de Outubro – Unidos por Mudança Global, que questiona a elite financeira, a desigualdade econômica e o socorro aos bancos em detrimento das populações dos países endividados, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, os gaúchos festejaram por colocar Porto Alegre novamente no mapa das reivindicações mundiais.

ENTREVISTA - Tendência é se esgotar rápido - Marco Antonio Villa, historiador - CAIO CIGANA

Historiador com formação em Sociologia e História Social, Marco Antonio Villa considera equivocado comparar o protesto globalizado nas ruas a outros momentos históricos de participação popular. Veja os principais trechos da entrevista:

Zero Hora – Qual sua avaliação dos protestos do fim de emana?

Marco Antonio Villa – São reflexo dos problemas econômicos de cada país. Nos EUA, a gestão Obama não tem sido eficaz porque não consegue aumentar o emprego, e o país está estagnado. Os protestos têm pequena proporção frente a outros movimentos de décadas recentes. Na Europa, principalmente na Itália, está vinculada à política local, à rejeição a (primeiro ministro Silvio) Berlusconi, é mais contra ele do que contra o sistema financeiro internacional ou o capitalismo.

ZH – O que virá agora?

Villa – A tendência é de se esgotar rapidamente, especialmente na Europa, quando surgir uma solução para a Grécia. A única saída é uma moratória, com perdão de parte da dívida.

ZH – E no Brasil?

Villa – São descabidas, fora do lugar. Aqui não há grande especulação na bolsa, não há problemas como os da Europa Ocidental e dos EUA.

ZH – Há paralelo com outros episódios?

Villa – Acho equivocada a comparação com 1968 e com movimentos pacifistas. É uma tentativa de pequenos grupos anticapitalistas sem representatividade. Achar que tem significação maior, que leve à ruptura da ordem ou a uma nova forma de fazer política, é um exagero.

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