A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

GRITO INDIGNADO DE "FORA RENAN" ECOA NA EUROPA

ZERO HORA ONLINE 26/02/2013 | 16h21

Mobilização além-mar

Brasileiros protestam contra Renan Calheiros na Irlanda. 
Estudantes organizaram via redes sociais uma manifestação realizada no domingo em Dublin


Protesto contra Renan Calheiros foi organizado via redes sociaisFoto: Iriane Sena / Especial


Organizados via redes sociais, jovens brasileiros que moram na Irlanda realizaram no domingo uma manifestação pedindo o impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros.





De acordo com a estudante Daniele Eckstein, cerca de 70 pessoas compareceram aoprotesto, que começou em frente à embaixada brasileira em Dublin e percorreu ruas da capital até o monumento Spire, que fica na O'Connell Street.





Os manifestantes cantaram o Hino Nacional e gritaram palavras de ordem em português e em inglês, pedindo a saída de Calheiros e o fim da corrupção, além de segurar cartazes com as reivindicações do grupo. 




A VOZ DA REDE



ZERO HORA 26 de fevereiro de 2013 | N° 17355


EDITORIAIS



Parcela expressiva da população brasileira não aceita o senhor Renan Calheiros como presidente do Senado, cargo para o qual foi eleito por seus pares pela terceira vez no início deste mês. Pessoas que discordam desta escolha, por julgar que o senador alagoano não tem condições morais para comandar o Congresso Nacional, participaram de uma mobilização nas redes sociais e tentaram levá-la às ruas no último final de semana. Embora tenham ocorrido atos de protesto em 33 cidades brasileiras e até no Exterior, a presença de público foi infinitamente inferior ao 1,6 milhão de assinaturas recolhidas na petição virtual encaminhada ao Senado com o propósito de dar início a um processo de cassação. Na prática, o manifesto eletrônico não tem qualquer base legal para uma análise do Conselho de Ética e os protestos de rua foram pouco significativos para convencer os parlamentares a revisar a decisão.

Fica, porém, uma mensagem clara: os cidadãos brasileiros, armados pelas novas ferramentas tecnológicas e estimulados pelo recente julgamento do mensalão, não estão mais dispostos a tolerar a política do jeitinho, das articulações pouco transparentes e do uso da função pública em benefício próprio. A reação contra Renan Calheiros não é gratuita. Em 2007, ele renunciou à presidência do Senado para não ser cassado após a revelação de relações suspeitas com uma empreiteira, que pagava a pensão de sua filha. Desde então, embora tenha mantido o mandato por decisão de seus pares, Renan Calheiros passou a contar com severa oposição, o que, num ambiente de total domínio da base governista, que ele integra, não impediu sua reeleição para a presidência da Casa.

Lá, ao que tudo indica, ele vai ficar até o final do seu mandato de dois anos – a não ser que fatos novos determinem uma mudança de rumo. Para atenuar a reação contrária, Renan Calheiros anunciou na semana passada que implementará no comando do Congresso uma administração baseada em quatro pontos principais: austeridade, transparência, racionalização de gastos e defesa intransigente da liberdade de expressão. Resta conferir se as bondades anunciadas resultarão em ações efetivas.

Quanto à liberdade de expressão, é bom que o senador alagoano e os políticos brasileiros em geral passem a considerar também a voz dos internautas, pois essa é uma manifestação inequívoca do pensamento dos cidadãos com acesso aos computadores. Ainda que no caso referido a correspondência entre uma e outra tenha sido decepcionante, a voz da rede pode, sim, se transformar em voz das ruas, como já ocorreu em outras situações e em outros países. Independentemente do seu formato, porém, o importante é que as manifestações por honestidade e transparência na política sejam percebidas pelos governantes e pelos parlamentares escolhidos democraticamente para representar os autores dessas mensagens, sejam eles o contestado senador ou outros que lhe dão sustentação.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PRESSÃO NACIONAL CONTRA RENAN

ZERO HORA 25 de fevereiro de 2013 | N° 17354

PRESSÃO NACIONAL

Novas manifestações pedem saída de senador




Brasília e outras capitais realizaram no final de semana novos protestos pedindo o afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os movimentos têm em comum o fato de terem sido articulados via redes sociais. Em Brasília, cerca de 70 pessoas marcharam no sábado do Museu da República até o gramado do Congresso Nacional levando cartazes e faixas e gritando palavras de ordem.

Para o analista de sistemas brasiliense Rogério Salvia, 33 anos, um dos organizadores da manifestação e integrante do Movimento Contra a Corrupção do Distrito Federal, o quórum foi pequeno, mas demonstra que, aos poucos, os cidadãos estão abandonando o chamado “ativismo de sofá”, expressão utilizada para se referir a quem só protesta pela internet.

– A coisa está mudando, o pessoal está começando a sair do conforto de suas casas – opina.

Em São Paulo, a manifestação bloqueou no sábado parte da Avenida Paulista. Ontem, ocorreram protestos no Rio, em Belo Horizonte e em Florianópolis. Na capital catarinense, os manifestantes carregavam bandeiras do Brasil e cartazes de repúdio à corrupção e ao senador, alternando gritos de “Fora Renan” e “Ficha Limpa” com trechos do Hino Nacional. A caminhada durou pouco mais de meia hora.

Denúncia contra Calheiros será analisada pelo STF

Calheiros é acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter praticado os crimes de peculato, falsidade ideológica e utilização de documentos falsos. A denúncia foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Para que o senador passe a responder a processo, o STF ainda terá de analisar o conteúdo da denúncia e entender que existem indícios suficientes para a abertura da ação penal.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

MANIFESTANTES PEDEM A SAÍDA DE RENAN

JORNAL DO COMERCIO - 20/02/2013 - 14h08min

Manifestantes pedem saída de Renan em frente ao Congresso Nacional

Agência Brasil
MARCELLO CASAL JR./ABR/JC

Integrantes de movimentos anticorrupção estenderam uma bandeira com a frase 'Ordem no Congresso'.

Integrantes de movimentos anticorrupção, que organizaram e apoiaram uma petição na internet pela saída do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da Presidência do Senado, estenderam nesta quarta-feira (20) uma bandeira do Brasil, de 150 metros quadrados, no gramado em frente ao Congresso Nacional. No centro do bandeirão, havia uma foto do presidente do Senado e a frase: 'Ordem no Congresso'.

Desde a eleição de Renan, no último dia 2, o movimento já recolheu pela internet, com a ajuda de redes sociais, quase 1,6 milhão de assinaturas a favor da saída do senador alagoano do cargo de presidente. O objetivo do abaixo-assinado era reunir número de assinaturas equivalente a 1% do eleitorado brasileiro - correspondente a 1,4 milhão de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - e apresentar um projeto de lei de iniciativa popular com este objetivo. Apesar do número de assinaturas, conforme a Secretaria da Mesa Diretora do Senado, um processo deste tipo deve começar com uma denúncia no Conselho de Ética da Casa, e não como um projeto de lei.

"Sabemos que essas assinaturas não têm feito prático, mas simbolicamente são muito importantes. Isso mostra que somos uma sociedade informada, conectada em rede, acompanhando os atos dos Três Poderes da República', ressaltou Antônio Carlos Costa, do movimento Rio de Paz.

Junto com as assinaturas, os manifestantes também vão protocolar hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) uma carta na qual pedem ao presidente da Corte, ministro Joaquim Babosa, que acelere a análise da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Renan, no dia 25 de janeiro. Na denúncia, o senador é acusado de peculato, falsidade ideológica e falsificação de documento por ter desviado verba de gabinete para pagar pensão a um filho.

"Desejamos assinalar que a nossa solicitação a essa Corte reflete a apreensão e a repulsa da população com a constatação de que a demora no julgamento configura efetiva absolvição do acusado, que continuará exercendo um dos mais importantes cargos da República', diz um trecho da carta.

O presidente do Senado não comentou a manifestação de hoje. Na última sexta-feira (15), ele divulgou nota dizendo que 'a mobilização na internet é lícita e saudável, principalmente, entre os jovens'. No documento, o senador disse ainda que 'o número de assinaturas não é tão importante quanto à mensagem, o que importa é saber que a sociedade quer um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos. E assim o será'. Renan também destacou que o Congresso Nacional vai trabalhar para garantir o maior desenvolvimento do Brasil.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

UM PAÍS MAIS PRUDENTE


Palácio de São Bento - "A Prudência". Lisboa, Portugal
ZERO HORA 04 de fevereiro de 2013

EDITORIAL


Cabe ao poder público fazer a sua parte. Mas fazer mesmo, sem escamoteações. Diminuiu muito a margem para os governantes lenientes e para os servidores relapsos.

Passada a primeira semana de comoção pelo dramático episódio de Santa Maria, o país precisa transformar a dor, a revolta e a indignação em ações pragmáticas destinadas a efetivamente assegurar um futuro melhor para seus jovens. Talvez precisemos de décadas ou mesmo de séculos para alcançarmos o estágio cultural de povos orientais que priorizam a educação, a ética e o cumprimento rigoroso das normas sociais, mas, enquanto isso não ocorre, podemos adotar medidas pontuais que assegurem avanços na segurança, na ordem pública e na preservação dos valores da vida _ independentemente da investigação policial em curso e das propostas de mudanças na legislação.

A questão mais premente no momento é a vistoria geral das casas noturnas e dos locais de grande afluência de público, para que não se repitam as condições de negligência que provocaram o desastre do dia 27 de janeiro. Entre as medidas esperadas e indispensáveis, está o cumprimento pelos empresários de todas as exigências da legislação e dos órgãos públicos responsáveis pela autorização de funcionamento de tais casas. Como diz o antigo ditado, quem não tem competência que não se estabeleça. Chega de tapeação, de puxadinhos, de transformar locais de diversão em armadilhas. Tais atitudes, invariavelmente motivadas pela ganância, tornaram-se ainda mais intoleráveis depois dos traumáticos acontecimentos de Santa Maria. E são criminosas _ não há mais como relevar isso.

Cabe ao poder público fazer a sua parte. Mas fazer mesmo, sem escamoteações. Diminuiu muito a margem para os governantes lenientes e para os servidores relapsos. Se quisermos realmente construir um país mais prudente em relação à segurança de seus cidadãos, temos que começar a levar a sério detalhes legais e técnicos que nem sempre são observados. E os órgãos fiscalizadores e autorizativos não devem ser apenas mais rigorosos. Precisam, também, ser mais ágeis, superar a burocracia sem desconsiderar as normas. É assim que funciona uma administração pública eficaz.

O comportamento dos cidadãos também precisa ser revisado. Não que ele deva se sentir culpado ou responsável por estar no momento errado na hora errada, como costumam alegar agentes públicos quando ocorre alguma desgraça, normalmente com o propósito de desviar o foco de suas próprias falhas. O cidadão tem o direito de se divertir, tem o direito de andar na rua com segurança, tem o direito de viver sem ser constantemente ameaçado pela violência dos delinquentes ou pela incúria de seus representantes. Mas tem também o direito _ e o dever _ de fiscalizar o Estado, de exigir qualidade nos produtos e serviços que recebe, de denunciar o que está errado e de ser atendido nas suas demandas.

O caminho da prudência passa pelo exercício pleno da cidadania.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não concordo que "o caminho da prudência passa só pelo exercício pleno da cidadania", já que cidadania é basicamente é um conjunto de direitos ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive, muito ligado a direitos políticos. Os defensores da "cidadania" no Brasil conseguiram exilar o "civismo", somando direitos e deveres como questão de cidadania e desprezando a importância do "espírito cívico" que enaltece os deveres e fomenta a defesa do interesse público, o respeito às leis e às autoridades constituídas e os sentimentos de solidariedade, de ética e de moral, tudo o que falta no Brasil de hoje e que poderia mobilizar a nação contra os saques ao erário, contra impostos abusivos e contra o descaso  na saúde, na educação e na segurança. A prudência ensina dominar vários pontos de vista, especialmente aqueles que estão longe da nossa perspectiva e dos quais dependemos para conviver em sociedade.


NOTA: Prudência em São Bento, Atenta, a Prudência toma consciência do espaço à sua volta. Observando à sua frente e nas suas costas, domina os vários pontos de vista para conhecer o que se passa — ou passou — prevenindo a surpresa ou a traição. Depois julga as ações, fazendo a distinção entre atos de coragem ou de covardia. A Prudência não executa ações. Associada à razão, ao conhecimento, à introspecção e à sabedoria, regula as restantes Virtudes (Temperança, Justiça e Força). http://1825.in/Prudencia-em-Sao-Bento

domingo, 3 de fevereiro de 2013

POUCO SE PENSA NO COLETIVO


ZERO HORA 03 de fevereiro de 2013 | N° 17332


SANTA MARIA, 27/01/2013


NILSON MARIANO 

Além da omissão do cidadão e da incapacidade permissiva do Estado, há outro ingrediente preocupante: não se assume as próprias responsabilidades. Segundo o cientista político e sociólogo Emil Sobottka, para o brasileiro, o diabo é sempre o próximo: atribui aos outros posturas negativas que tem, mas jamais admite.

– Experimente chamar a atenção de um motorista que está falando no celular. Ele certamente vai lhe destratar – previne o cientista político.

Professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Sobottka pesquisa as sociedades da Alemanha, Holanda e Suécia. Entende que o brasileiro não deve chegar ao extremo dos prussianos, que colocam o dever acima de tudo. Nem exagerar como certos norte-americanos, que adoram dedurar os vizinhos à polícia em vez de conversar antes. Sobottka prega o equilíbrio, mas, sobretudo, cobra mais iniciativa.

– As pessoas em geral precisam assumir as suas responsabilidades. Andar dentro das regras – afirma.

Sobottka percebe que interesses privados são “fortemente representados” no Brasil. Há bolsões que defendem suas causas – e seus lucros – inclusive pisoteando no bem comum. Porém, nota que os interesses públicos, como a segurança, a educação e o trânsito, são relegados.

– A sociedade civil organizada é muito fraca, frágil, quando o assunto é o interesse público – observa.

O que mais apavora o secretário-executivo da organização Contas Abertas, Gil Castello Branco, é a irresponsabilidade compartilhada entre os setores público e privado. Especializado em fiscalizar governos, cita a parcela de empresários que opta por soluções “fáceis e baratas”, almejando somente o lucro e expondo vidas a perigo. Critica governos ineptos, tolerantes com erros e que não fiscalizam fraudes nem impedem a rotina de logros contra a população.

– Há, no Brasil, uma relação promíscua entre a iniciativa privada e o governo – acusa Castello Branco.

O dirigente da Contas Abertas também se insurge contra a lassidão de não se aprender com as lições que vêm de fora. Recorda que o fogo na República Cromañón, em Buenos Aires, não serviu de alerta para uma realidade preponderante no Brasil: boates em formato de arapuca, sem prevenção contra sinistros, que podem se transformar em câmaras de extermínio.

Castello Branco teme que o ciclo de irresponsabilidades não será interrompido com o episódio de Santa Maria. Gostaria de estar equivocado, mas acredita que as autoridades vão prometer recursos e mais rigor nas leis, como sempre fazem. E que tudo voltará a ser como antes quando passar a comoção.

– Prevalecem a incompetência e a irresponsabilidade – enfatiza.

UMA SOCIEDADE QUE SÓ REAGE


ZERO HORA 03 de fevereiro de 2013 | N° 17332

SANTA MARIA, 27/01/2013

NILSON MARIANO

Quantas vezes já se viu algum motorista falando ao celular enquanto dobrava a esquina, apenas uma das mãos ao volante, e nada se fez? Em quantas oportunidades se encontrou um tablete de margarina com o prazo de validade vencido, exposto no mercado, mas não se chamou o gerente para recolher o alimento?

Quantas vezes já se atravessou uma avenida fora da faixa de segurança?

Ainda sob o impacto da tragédia que matou pelo menos 236 jovens em Santa Maria, especialistas consultados por ZH apontam que falta atitude ao brasileiro. Não sugerem, é óbvio, que cada pessoa se invista em fiscal do vizinho. Mas a passividade pode ser fatal. Abdicar do exercício da cidadania é compactuar com a negligência, o desapego à lei, a corrupção. É estimular a burla dos gananciosos que descumprem normas na busca do lucro fácil, como forrar a boate com uma espuma barata e de baixa qualidade, que expele fumaça venenosa se pegar fogo.

Um dos mais destacados antropólogos, Roberto DaMatta alerta que a sociedade brasileira não é proativa – no sentido de exigir seus direitos e defender as causas públicas. Define-a como “reativa”, age de forma solidária e emocionada quando sobrevém a destruição e o luto.

– Deixa que chegue ao pior para tomar uma medida, as quais são sempre insatisfatórias – lamenta.

DaMatta diz que o Brasil contraiu um pacto com o ente apelidado de Sobrenatural de Almeida, segundo o qual “não vai dar nada”, “nada acontecerá de ruim” e pequenas transgressões serão perdoadas. É por isso que se dirige acima do limite de velocidade, não se é cordial nas filas, solta-se sputniks em uma boate superlotada com arquitetura de gaiola.

– Eu, que já estou no terceiro tempo da vida (76 anos), fico abismado com a atração dos jovens pelo perigo – comenta.

Estado recebe toda a responsabilidade

Autor de livros como Carnavais, malandros e heróis, DaMatta indaga: o que aconteceria, diante do conjunto de irresponsabilidades que precedeu o incêndio em Santa Maria, se a boate Kiss estivesse num país como o Japão? Aposta que haveria suicídios, conforme o código de honra dos samurais. Na Argentina, após o fogo que matou 194 jovens na República Cromañón em 2004, funcionários e fiscais públicos foram condenados à prisão. Para o antropólogo, os desdobramentos aqui são imprevisíveis: a impunidade é outro mal brasileiro.

– Como pode ter um megaevento desses, com banda num espaço fechado, e com pirotecnia? – questiona.

À indulgência do brasileiro, o sociólogo Francisco de Oliveira agrega outro componente de risco. É a mania de se esperar que governos resolvam tudo. Professor emérito da Universidade de São Paulo, adverte que o Estado “está despreparado”, não se renovou para atender a uma sociedade que evoluiu de rural para urbana e industrial.

– O Estado está desaparelhado, o único que faz é correr atrás do prejuízo – ressalta.

Um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Chico Oliveira, como é chamado entre os seus pares, desanima-se com as perspectivas. Não vislumbra o que denomina de “remédio” a curto prazo. A inércia do cidadão e a inépcia das autoridades cimentaram uma montanha pesada demais para ser removida.

– Infelizmente, a passividade é uma característica da sociedade, enquanto as instituições estão superadas. Temos um governo que não atua, não tem caráter preventivo, e isso vai continuar assim – diz Oliveira.



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O pior é que a sociedade brasileira NÃO reage. É questão de tempo e tudo é esquecido. A história mostra que o brasileiro nunca foi um povo passivo, mas se transformou em passivo diante de uma legislação arcaica e benevolente, de cobrança de impostos abusivos, de maus exemplos de autoridades públicas, da  impotência diante de poderes omissos e de medidas absolutistas que calam a voz dos "atrevidos" com indenizações absurdas.