A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

MORADORA PRESSIONA, MOBILIZA A COMUNIDADE E FAZ VEREADORES REDUZIREM SEUS SALÁRIOS

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 19/07/2015


Moradora faz pressão e vereadores, em vez de aumentar, cortam salários. Na Câmara de Santo Antônio da Platina, Adriana discutiu com parlamentar. Vídeo fez sucesso na internet e população lotou a Casa para ver votação.






Quem é a pequena comerciante de Santo Antônio da Platina, no interior do Paraná. Que deu, esta semana, um exemplo de cidadania para todo o país?

Você viu, no Jornal Nacional de quinta-feira (16): Adriana Lemes de Oliveira conseguiu impedir que os vereadores da cidade aprovassem um aumento de salário. Hoje, é aclamada nas ruas.

Na pequena loja de presentes, a freguesia continua a mesma, mas a dona nunca viu tanta tietagem. “Digo parabéns porque o que estamos passando é vergonhoso”, diz a cliente Lilian Souza. E sair para ruas, então? Está difícil. A equipe do Fantástico não dá um passo sem que ela pare para cumprimentar, acenar para alguém.

“Porque ela representou o que a gente queria fazer, mas talvez não tivesse coragem de ir lá e fazer o que ela fez", diz a vendedora Helen Faria

A rotina de Adriana, de 43 anos, mudou, de repente, por causa de um gesto, um ato de cidadania. Na segunda-feira (13), a Câmara de Santo Antônio da Platina aprovou, em primeira discussão, um projeto que previa aumento de salário para prefeito e vereadores da próxima legislatura. No dia seguinte, indignada, a Adriana foi até à Câmara cobrar explicações. Mas acabou se envolvendo em um bate-boca com um vereador.

A cena foi gravada com um celular. Adriana discute com o vereador José Jaime Paula Silva (PSB), conhecido como mineiro. “Isso é um absurdo”, disse ela no vídeo.

“País está em crise. E ele falou: ‘Crise? Você está em crise? Eu não estou em crise’. Nossa, eu fiquei desnorteada”, conta a empresária Adriana Lemes de Oliveira.

Fantástico: O senhor está em contato com as ruas, vereador?
José Jaime Silva, vereador do PSB: Direto.
Fantástico: E o senhor não está vendo a crise?
José Jaime Silva: Não estou vendo. Muito pouco.

Para quem conhece Adriana, nenhuma surpresa. A irmã conta que ela é assim desde pequena.

Angélica Lemes e Silva: Ela sempre foi assim a vida inteira.
Fantástico: Via uma coisa errada e já reclamava?
Angélica Lemes e Silva: Jamais e não leva desaforo para casa.

A professora também confirma a fama da ex-aluna "A gente já podia enxergar essa liderança nela. Essa luta pelas coisas certas”, conta Olinda Chaves.

E, em casa, o marido Rubens confessa: nada nem ninguém pode sair da linha. A gente tem que segurar, às vezes, ‘calma, calma’, diz o marido Rubens Alves Neto.

Para as filhas, Helena e Isadora, o jeitão da mãe é motivo de orgulho. "Eu achei o máximo, muito bom porque é a cara da minha mãe fazer isso”, diz a filha Isadora Oliveira Alves.

O vídeo de Adriana discutindo com o vereador caiu na internet e a história, na boca do povo. Na quarta-feira (16), moradores lotaram a Câmara para acompanhar a segunda votação do projeto. Quando Adriana chegou, foi aplaudida de pé.

Com a casa cheia e Adriana na linha de frente, os vereadores não só desistiram do aumento como apresentaram uma emenda para baixar os salários. E foi um corte radical.

Pelo projeto, o salário de vereador iria de R$ 3.745 para R$ 7,5 mil e o do prefeito de R$ 14.760 para R$ 22 mil. Agora, o próximo prefeito vai ganhar R$ 12 mil e os vereadores, R$ 970.

Nas galerias, o povo comemorou. Os vereadores reconheceram: só voltaram atrás por causa da pressão popular. "O povo veio, fez a pressão, rede social fez pressão. Eu acho que isso serve de exemplo para o país inteiro", diz o vereador Francisco Faustino de Proença Júnior (PPS).

"O povo tem força e isso foi provado aqui. A gente não pode se acovardar, não pode. Tem que dar a cara para bater e lutar pelos nossos direitos, porque nós estamos em maioria. O povo é a maioria", afirma Adriana.